Ganharam capacidade de reunir, de uma única vez, dezenas de milhares de fiéis – a despeito de inovações como a televisão, o rádio e a internet, que tornaram os líderes das igrejas famosos e inventaram o exercício remoto e quase impessoal da fé.
Ao custo de centenas de milhões de reais, os megatemplos se multiplicam nas grandes cidades brasileiras e atraem multidões antes vistas apenas em shows e jogos de futebol. Como exibição de fé, são verdadeiros monumentos a atestar o vigor do cristianismo brasileiro. Do ponto de vista social, testemunham o enorme desejo de participar que anima as multidões de fiéis.
Se Deus está presente onde duas ou três pessoas se reúnem em nome Dele, como diz a Bíblia, os fiéis imaginam que sua presença será ainda mais intensa quando se reúnem 30 mil, 50 mil, 150 mil pessoas.
Megatemplos são construídos em todo o país e por várias religiões: a Igreja Católica inaugurará em 2012 o Santuário Mãe de Deus, para 100 mil pessoas, em São Paulo. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, a Catedral Cristo Rei vai abrigar até 25 mil pessoas quando for consagrada, em três anos. Entre os evangélicos, várias denominações prometem inaugurar suas megaconstruções. Em Guarulhos, na Grande São Paulo, a Igreja Mundial do Poder de Deus planeja construir a Cidade de Deus, para 150 mil pessoas.
No Recife, a Assembleia de Deus conclui o projeto de um templo para 30 mil pessoas. Em Belo Horizonte, a Igreja Batista de Lagoinha planeja acolher num mesmo teto 35 mil pessoas. “Os brasileiros têm necessidade de grandes basílicas e catedrais, de lugares grandes para congregar e orar”, diz o padre Marcelo Rossi, criador do Santuário Mãe de Deus.O fenômeno é mundial e multirreligioso. Estados Unidos, Coreia do Sul e Guatemala têm grandes templos. Na Nigéria, a Winners Chapel (Capela dos Vencedores) acolhe 250 mil fiéis.
No islamismo, a ideia de que a multidão amplifica a experiência religiosa é antiga. “Maomé diz que a oração em conjunto é 27 vezes maior do que a oração individual”, afirma o xeque Jihad Hassan, presidente do Conselho de Ética da União Nacional Islâmica, em São Paulo. Por isso, as principais mesquitas do mundo árabe, em Meca e Medina, estão frequentemente em obras de ampliação.
A Mesquita do Profeta, em Medina, na Arábia Saudita, foi aberta no ano 622 com capacidade para centenas de fiéis – adequada à população da cidade, que girava em torno de 2 mil pessoas. Hoje, Medina tem uma população de quase 2 milhões de pessoas, e a mesquita pode abrigar 1 milhão de fiéis.
No mundo cristão, o fenômeno dos templos multitudinários teve início na década de 1970, como reflexo da popularização das igrejas evangélicas. No Brasil, começou nos anos 1980, quando as igrejas evangélicas passaram a comprar grandes salas de cinema abandonadas, com capacidade para até 2 mil pessoas. Dez anos depois, surgiram edifícios religiosos como a Catedral Mundial da Fé, sede da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio de Janeiro, que abriga 15 mil fiéis, sem contar no megatempo que a igreja esta construindo em São Paulo, O Templo de Salomão que deve abrigar 70 mil pessoas e ficará pronto em 2015, podendo virar até uma atração turística da cidade.
A Igreja Católica, representada por seu ramo carismático, reagiu – dentro de suas tradições arquitetônicas. “Um espaço que leve à reflexão não pode ser confundido com um auditório ou ginásio. Um local profano pode acomodar as pessoas, mas não ajuda na experiência religiosa”, diz o arquiteto Ruy Ohtake, autor do projeto do Santuário Mãe de Deus.
A construção do templo é financiada pelo padre Marcelo Rossi com o dinheiro de doações e da venda do CD e do livro Ágape (publicado pela Editora Globo), que, juntos, já venderam 9 milhões de exemplares.
Fonte: Revista Época
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